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agosto 20, 2007

Educação

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Evasão escolar é maior no ensino médio Marisol Almofrey 

Quem não conhece um jovem que abandonou a escola por causa do trabalho ou já ouviu alguém dizer que se arrependeu por ter abandonado os estudos? Pesquisas feitas pela Unesco diz que pelo menos 13 capitais brasileiras podem responder a pergunta, devido ao aumento da evasão escolar no ensino médio.

Dados do Ministério da Educação e Cultura revelam que o nível médio foi o mais afetado pela evasão dos estudantes – até 1997 o número de abandono aumentou de 5,25% para 8,3% nas escolas do país.

Embora um dos motivos do abandono seja o desinteresse dos estudantes, de acordo com pesquisas feitas pela Fundação Getúlio Vargas, ainda assim a história da auxiliar de limpeza Ana Anunciação, 44 anos, nascida em  Irará, pequeno interior da Bahia, mostra ser diferente a causa da evasão escolar.

“Comecei a trabalhar na roça aos sete anos capinando mato, colhendo mandioca, plantando feijão, milho e logo aos 10 anos já carregava os balaios de mandioca na cabeça”, afirma Ana.

Além de ter enfrentado dificuldade para ir à escola devido ao machismo do pai, Ana afirma que lia as lições sobre a luz da lamparina. O cansaço físico causado pelo trabalho também impedia que Ana acompanhasse o ritmos das aulas.

Coincidentemente, Ana trabalha em uma faculdade para sustentar os seus três filhos sozinha e revela que, além de se preocupar com a desmotivação no  estudo do filho mais novo, também espera que a filha mais velha consiga entrar em uma Faculdade através da bolsa escolar.

Pesquisas realizadas pela Fundação Getúlio Vargas revelam que dentre os  45,1% dos alunos que deixaram de estudar, 23% culpam a falta de atração e motivação das escolas, sendo que cerca de 23% desses estudantes  abandonam  a escola por motivo de trabalho se tornando fontes de renda da família. 

Além de ter dificuldade de aprender por falta de subsídio necessário, Ana revela que os meninos tinham mais acesso à escola.

Com lágrimas nos olhos, o pernambucano e auxiliar de limpeza de uma faculdade, Ivanildo Lopes assume que se pudesse voltar atrás, trocaria a enxada pelos livros.

Ivanilldo, além de ter trocado a sala de aula pelo campo, também aprendeu uma lição diferente da escola, pois teve que plantar aipim e feijão para sustentar a família.

O auxiliar de limpeza confessa que ao chegar na cidade grande, os estudos continuou distante de sua vida sendo substituído pelo trabalho.

 “Digo sempre ao meu filho que sem o estudo ele vai ser que nem eu. Vai ter que limpar chão e receber um salário que mal dá pra viver”, desabafou Ivanildo.

Os olhos de Ivanildo voltam a brilhar ao revelar que o seu único filho é um excelente aluno. “Ele nunca perdeu de ano na escola. Faço o que posso para motivá-lo a ser alguém na vida”, disse Lopes.

  Realidade 

A professora Kaline Mendes, que além de ser docente de uma Faculdade, também ensina aos alunos da Escola Pública do Ensino Fundamental. De acordo com Kaline, vários fatores explicam o aumento da evasão escolar, dentre eles, está o problema familiar, a falta de alimentação e recursos financeiros.

“Para avaliar as causas da evasão escolar é necessário um estudo mais profundo, necessariamente antropológico”, destaca Kaline. A professora afirma que a desigualdade social reflete no aumento da evasão escolar, principalmente nas escolas públicas da periferia que o número é bem maior.

Letícia * confessa que foi dolorosa a experiência de ter estudado o Ensino Médio na escola pública Luís Viana, devido aos problemas econômicos enfrentados pela família. “É gritante a diferença entre a rede pública e privada, pois os alunos que estudam em escola pública não são estimulados pelos professores’, destaca. 

 Trabalho Infantil 

Talvez Ana não saiba, mas foi vítima do trabalho infantil ao relatar que aos 14 anos saiu do interior e migrou para cidade, logo que chegou em Salvador passou a trabalhar como empregada doméstica.

O Brasil ocupa o ranking mundial na luta contra o trabalho infantil. Pesquisas feitas pelo IBGE revela que houve redução do número do trabalho infantil no país. Mesmo assim, o número de crianças vitímas do trabalho infantil aumentou na região do Nordeste. 

Diferente da situação de Ana, o radialista Marlon Dias,o qual trabalha em uma rádio comunitária teve que abandonar a escola aos 17 anos, pois o pai trabalhava em uma empresa de construção civil, por conta disso mudava de cidade constantemente.Após 23 anos longe da sala de aula, Marlom se inscreveu num curso de supletivo oferecido pelo governo.

“Vou terminar o segundo-grau. Sinto necessidade de estudar, pois o  mercado está muito exigente”, confessa Marlon. 

  

Auto-Estima

 De acordo com a psicóloga Silvia Schultv, geralmente os alunos que abandonam as escolas são vítimas dá construção da auto-imagem ruim, mas conhecida como complexo de inferioridade.Para a psicóloga Silvia os estudantes da rede pública não enxergam a escola como um setor de direito do cidadão, mas acreditam que são agraciados com o ensino gratuito.Com isso, os alunos se sentem inferiorizados. Outro problema é a falta de estímulo por parte do ensino público. “O abandono escolar não gera conseqüências comportamentais de forma imediata. Geralmente as pessoas que abandonam os estudos sofrem com a baixa estima quando tem que enfrentar  uma entrevista de trabalho.

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